segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Contos da madrugada tardia... Tenho saudades tuas...

Tenho saudades tuas... muitas... e... não sei quando te voltarei a ver... ou... se te voltarei a ver... Enfim... se tem que ser assim... Se é assim que está escrito no Livro da Vida...
Eu sou um velho lobo solitário que vagueia pela floresta, em busca sabe-se lá de quê... Recuso integrar as alcateias, escapo-me dos grupos tresmalhados, tento evitar os caçadores, furtivos e não furtivos, as armadilhas para lobos e para lorsos (uma combinação de lobo com urso; creio mesmo que terei uma costela de lorso) e refugio-me nas escarpas nuas e inóspitas das Montanhas Selvagens. Quando a madrugada entra, subo ao topo do mais alto penhasco das redondezas e uivo à lua as minhas venturas e  desventuras.
Tu, por sua vez, és a bâmbi mais linda da floresta e vives junto ao paradisíaco lago das Fontes Sagradas, onde cisnes imperiais, alvos como a neve, se deslocam entre tufos de nenúfares... e pequenos cardumes de trutas, da cor do arco-íris, se entretêm a mergulhar naquelas águas cristalinas. Em redor, arbustos de médio porte desenham corações atravessados por pequenas setas douradas, onde estão dissimuladas armadilhas para lobos e para lorsos.
Por vezes, quando vagueio, anónimo e errante, por pequenos montes nas cercanias, olho para baixo e vejo-te, linda e graciosa, passeando pelos tapetes de relva, conversando com outras bâmbis, ou simplesmente descansando à beira do lago.  Nessas alturas, esqueço-me do tempo, do espaço, da própria floresta e até dos caçadores furtivos e não furtivos (o que já me ia custando umas quantas cicatrizes) e deixo-me enlevar nos meus próprios sonhos e desejos... Mas é por pouco tempo... porque... ou tu te retiras para locais mais discretos... ou eu tenho que seguir o meu caminho...  ou... PUM... aí vem caçador...
À noite, no dealbar da madrugada, subo, devagar, ao penhasco mais alto das Montanhas Selvagens e uivo à lua  a ventura desse dia. Se uma destas noites acordares, quando a noite já está cansada de ser noite  mas ainda não consegue ser manhã, e ouvires um lobo a uivar no horizonte, não te assustes. Sou eu a contar à lua a felicidade que me proporcionaste nesse dia. Eu sei que as bâmbis não vão à janela a essa hora da noite, mas, se fosses, podias ver um fantástico bailado, a desenhar no negro céu, o teu nome em estrelas de prata ヘレナ. 
20/6/2012

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