segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Festas em Honra de Nossa Senhora da Saúde - Domingo - Procissão - I


No Domingo, dia 1, da parte da tarde, decorreu pelas ruas da cidade de Sacavém, a Procissão em honra de Nossa Senhora da Saúde. O evento foi presidido pelo Rev. Cons. Francisco Espinheira, Vigário geral do Patriarcado de Lisboa, e contou com presença de inúmeros crentes, residentes na cidade, oriundos das povoações limítrofes ou, mesmo, de zonas mais distantes, como Benfica ou Amadora (eventualmente de mais longe, mas, pessoalmente, encontrei pessoas destas duas localidades). 
Creio que se pode afirmar que terá sido a procissão mais concorrida dos últimos anos, com a coluna a estender-se, serpenteante, por mais de um quilómetro. A cerimónia foi vivida  e sentida num ambiente de espiritualidade profunda, visível em cada rosto, em cada olhar, em cada cântico...   
Se, eventualmente, algum de nós se tivesse predisposto a deixar cair as grilhetas da racionalidade humana e se despisse dos (pre) conceitos a ela associados, teria, com certeza, tido a possibilidade de sentir o pulsar em uníssono do coração de centenas, milhares de crentes que, reunidos no interior de um silêncio desvelador, murmuravam preces antigas, entoavam hinos de louvor, rezavam Avé Marias de Luz...    
Se, eventualmente, algum de nós, se tivesse, naqueles momentos, aberto à presença de Nossa Senhora e... mais do que falado... tivesse escutado, mais do que entendido... tivesse sentido...  teria recebido, no mais fundo do seu coração, a palavra de Maria, desenhada em traços de orvalho e pincelada em tons de luar:
"Os sentimentos não nascem por acaso... nem por ação humana... Os sentimentos são missões de Deus... São tarefas que Deus atribui aos  homens com determinado objetivo... Na sua origem  são sempre bons, positivos, iniciáticos... Que os homens os deturpem, os invertam e os utilizem no sentido errado é outra história... mas, na sua raiz, os sentimentos são sementes que Deus coloca no vosso coração, na centelha de divino que há em cada um de vós... para que seja regado, tratado, aumentado, espalhado... Abandonares um sentimento é traíres a missão que te foi confiada... Se Deus te deu a graça de amares alguém... entrega-te... sem limites... sem temores... Vive esse sentimento dia a dia... hora a hora... momento a momento... Não te preocupes contigo... nem com o teu sofrimento... que é uma gota de água nessa infinita potencialidade de amares...  Não acalentes esperanças... nem te sentes em cima do desânimo... Não é a ti que estás a servir... é a pessoa que Deus escolheu para tu amares... Por isso... serve-a com todo esse amor... olha-a, mesmo que ela não te olhe... sorri-lhe, mesmo que ela não te sorria... deixa-a perceber que viverá sempre no teu coração... que sentes o que sentes...  sem esperares nada em troca... Deixa-a perceber que o que sentes por ela é... absolutamente incondicional... "
PS: As palavras da Virgem não surgem, neste artigo, como mero recurso artístico de enriquecimento do texto. Houve um momento durante a procissão, talvez porque o cansaço físico muitas vezes nos reduz a lucidez intelectual, espiritual e emocional, em que... de  repente... de uma forma perfeitamente inesperada... tudo me pareceu sem sentido... tudo me pareceu completamente errado... Estive alguns minutos parado a tentar perceber o que estava realmente a sentir... e foi nesse momento que Nossa Senhora me falou ao coração...
















 
 

domingo, 29 de setembro de 2013

Interlúdio - Contos da madrugada tardia - Ver-te...

O meu olhar teve alguma dificuldade em se adaptar ao ambiente soturno... entre o cinzento e madrepérola... ligeiramente retocado pela dimensão fugidia da sombra... Mais do que pessoas... via vultos... mais do que objetos... formas... vultos vazios... formas informes... espaços à média luz... Entrei... lentamente... como se não procurasse ninguém... Como se tudo... absolutamente tudo... me fosse indiferente... Como se sentimentos... memórias... esperanças... amarguras... fossem apenas ténues  marcas de uma outra vida... de um outro mundo... de uma outra personagem... ausente... Como se a presença e a ausência se confundissem... num mesmo momento... num mesmo lugar... Como se tu estivesses... e não estivesses... simultaneamente...  e isso me fosse completamente indiferente... Olhei em redor... sem ver ninguém... e vendo-te... vi toda a gente... vendo-te... vi-me a mim mesmo... vendo-te... perdi-me a mim mesmo... Ver-te foi uma sensação indescritível... Todo o meu ser vibrou... como uma harpa encantada... Senti o coração a bater de forma desordenada... Uma chama a faiscar por todo o meu corpo... Um vazio extasiado a ocupar-me o cérebro... Ver-te... é... qualquer coisa de... diferente... de mágico... cativante... Ver-te... apenas... apenas isso... tão simples quanto isso... Ver-te...

31/1/2013