domingo, 30 de junho de 2013

Peregrinação a Fátima 2013 - Terceiro dia - IV

Após o almoço, em Pernes há, sempre, um momento reservado a uma merecida siesta... que grande parte de nós não recusa. Como normalmente adoto a posição de ângulo obtuso antes do almoço, depois da refeição já perdi o sono e tenho que dar azo à minha imaginação para entreter o tempo de espera... No entanto, creio que esta passagem por Pernes foi mais curta este ano, pois não tenho registo de quaisquer pensamentos que me tenham ocorrido neste espaço de tempo... A não ser...
- Não...
Era o que eu ia escrever... "... a não ser... não... tenho a certeza de que não me vieram nenhuns..."
É nesta localidade que tiramos, normalmente, a foto de família, na qual falta o Sr. Fernando, ocupado com os afazeres próprios da sua atividade profissional de fotógrafo... Também o décimo segundo apóstolo se encontrava em parte incerta... como habitualmente... É um caso perdido... não nos preocupemos mais com ele...
Após a foto de família soaram os três apitos, soprados pela Dª Ermelinda... e metemos pernas à estrada. O Sr. Fernando, atrás referido, elege estes momentos para registar algumas imagens para a posteridade. Não é invulgar, muito pelo contrário, encontrá-lo de objetiva em punho registando aqueles momentos em imagens cuja qualidade pede meças a qualquer fotógrafo da nossa praça. O retorno ao alcatrão fez-se com a alegria habitual que carateriza os Caminhantes da Senhora de Fátima. Mesmo que não se expressem de viva voz há cânticos no ar que emanam do fundo do coração de cada um dos Caminhantes e que um ouvido mais atento e mais sensível com certeza não deixará escapar... A tarde estava quente... e tendia a aquecer mais ainda... Talvez não... Estamos na parte final do pico do calor, altura em que o sol vai deixando de estar a prumo... Ainda assim suficientemente tórrido para tornar ainda mais dura a jornada vespertina que, devido ás caraterísticas do terreno, já o era por natureza. O percurso entre Pernes e Alcanena é feito de um constante sobe e desce com rampas pronunciadas, ora no sentido ascendente, ora no sentido descendente... É o tipo de percurso "rompe-pernas" que obriga os músculos a um constante esforço, em movimentos de sentidos opostos, que a temperatura elevada torna um pouco mais complicado. Neste sentido é perfeitamente natural que o grupo sofra algumas fraturas, face à diferente condição física de cada Caminhante. Nada de verdadeiramente preocupante, até porque quando as fraturas são mais vincadas e a Dª São e o sr. Fernando deixam de ser vistos no horizonte próximo, a montante, o Sr. Luís impõe um alto à frente e respetiva paragem para permitir o reagrupamento. Estes momentos de paragem podem ser algo complicados para quem esteja com um ritmo certo, os músculos oleados e, eventualmente, uma hipotética dor controlada. O recomeço é sempre doloroso. Neste tipo de paragens breves opto sempre por não deixar os músculos pararem e a própria dor é convidada a continuar a doer para não perder o hábito.
Recordo-me que há dois anos fiz este percurso na companhia da Dª Maria José, a quem daqui saúdo, naturalmente, e praticamente voámos rampa acima, rampa abaixo. Creio que nem demos pelos desníveis do terreno. Neste dia, este ano, tornou-se ainda mais importante a presença da Dª Ermelinda, da Dª Rosa e da esposa do Sr. Sousa Pais na distribuição de água que foi sendo consumida na proporção direta da intensidade do calor e do cansaço acumulado. É, de facto, um esforço considerável que fazem ao longo destes dias os Caminhantes da Senhora de Fátima. Afasto-me um pouco da coluna, olho para cada um dos Caminhantes, individualmente, e para o grupo na sua totalidade... Observando-vos no terreno, nestas jornadas, não errantes, mas ainda assim com um dose qb de irreverência e de loucura, vem-me à memória... um homem... o único homem a  quem, como diz o Poeta, "Deus se viu obrigado a pedir clemência...": "Saulo, Saulo, por que me persegues...?" Embora normalmente não inveje a experiência alheia... não me importava de trocar uns anos de vida pela experiência, ímpar, fabulosa, iniciática, como a da Estrada de Damasco...
Se há personagem na História da Igreja que eu, de facto, admiro... Se me fosse permitido "viver" a vida de alguém, numa outra encarnação, claro,  essa vida seria a de Paulo de Tarso... Dispensava era morrer no incêndio de Roma, ás mãos de Nero no pico de sua loucura incontrolável... Preferia morrer num ambiente, não tão quente... enfim... talvez nos braços de...
- Não...
- Não... Claro que não... preferia morrer num ambiente mais fresquinho... sem braços... 
Regressando a Paulo... Que vida extraordinária... Percorrer milhas atrás de milhas... sem descanso... em condições tantas vezes adversas, num ambiente tenso e perigoso como o do Próximo Oriente, apenas para levar a Palavra de Cristo, é algo absolutamente notável... Paulo representa a fé espontânea e viva,  simples e pura... sem teologia nem clero hierarquizado... Uma fé consubstanciada no Deus vivo... no Deus que trouxe consigo o vento de mudança e, com ele, o inefável sentimento da Origem... Olhando para vós, caminhando sob este sol escaldante... vendo as marcas do esforço bem vincadas no vosso rosto e, ainda assim, persistirem passo a passo, metro a metro... consigo transportar-vos até ás décadas de 50 e 60 do primeiro século da nossa era... ao lado de Paulo... no papel dos seus companheiros de fé e de caminhada... Timóteo... Marcos... Barnabé... Stefnas... Priscila... Fortunatos... Áquila... Lídia... Soprastos... e tantos outros... percorrendo os caminhos e as pequenas povoações onde existiam gentes a ser convertidas e almas a ser salvas... Vejo-vos a levarem a palavra de Cristo... não na Azambuja, no Cartaxo ou em Almejões... mas lá... em povoações tão desconhecidas como Filipo... Tessalónica... Eféso... Corinto... Berêa... o Vale do Oronte... Antioquia... Neapolis... Icónio... Vós sois... os companheiros e companheiras... não de São Paulo... que era demasiado humilde para aceitar esse São... mas de Paulo... Paulo de Tarso... o homem que impediu que o Cristianismo se limitasse a ser uma obscura seita judaica, como pretendiam Pedro e Tiago... Não percebo muito bem como é que Cristo elegeu Pedro como a primeira pedra da sua Igreja... Vejo sempre Pedro a abanar a cabeça para um lado e para o outro... "Não... não conheço... Nunca o vi..." Paulo ainda tem uma opinião pior como escreve na Carta aos Gálatas... Vós Caminhantes da Senhora de Fátima... estais muito longe de Pedro... ides ali... lado a lado com Paulo... Paulo de Tarso...
A entrada em Alcanena continuou a oferecer-nos rampas acentuadas... Uma e outra... uma rotunda.... e outra ainda... é só mais uma subida e chegamos à Escola Secundária .onde descansaremos esta noite... Pode-se dizer que bem o merecemos...



























































































quarta-feira, 26 de junho de 2013

Peregrinação a Fátima 2013 - Terceiro dia - III

A seguir à Portela das Padeiras, e a um descanso para relaxar os músculos, seguimos caminho pela planície ribatejana, por entre o som ritmado do suave canto das lesírias e o aroma ainda fresco dos roseirais que dão cor e vida a diversos quintais ao longo do percurso...  Fomos atravessando diversas povoações que apenas nos cumprimentaram de passagem, tão ocupadas estavam com as suas lides...
Póvoa de Santarém... rodeada de férteis campos convertidos, principalmente, em olivais e pomares. Esta localidade foi, durante muito tempo, conhecida como "Póvoa dos Galegos" devido ao grande número de "galegos" (pessoas oriundas das Beiras e de Trás-os Montes) que durante o século XVIII, ocorreram a estas terras para trabalhar na construção de estradas...
Torre do Bispo, pequeno lugarejo, com pouco mais de 100 habitantes cuja capela com perto de 800 anos data de 1317. Reza a lenda que em tempos remotos teria sido construída, nos arredores, uma enorme torre, toda em tijolo do adobino (uma mistura de barro, água e palha recorrendo a técnicas artesanais com origem no Antigo Egito e a que encontramos referências em Êxodo 5, 7-18) que lhe garantia uma forte resistência e, simultaneamente, mantinha o interior fresco, mesmo durante o pico do calor. Ainda segundo a lenda um Bispo itinerante da região utilizava a referida torre para descansar antes de uma nova jornada. Uma noite o Bispo não se estava a sentir particularmente bem,  saiu da torre, caminhou pelas  redondezas, procurando alguém que o pudesse ajudar. Perdido na escuridão, exausto, sedento, faminto e delirante acabou  ficar caído, horas a fio na berma de uma estrada secundária... Não se sabe exatamente quanto tempo passou até que Deus guiou uma alma caridosa até àquele local... Era uma lindíssima senhora, elegante, fino trato, que, após um árduo dia de trabalho, regressava a casa, algo temerosa, face à escuridão das imediações... Constava que, por aquelas estradas, temíveis bandos de salteadores assaltavam e, muitas vezes, maltratavam, quem por ali se aventurasse... Alguém chegou mesmo a jurar, pelos olhos que a terra iria um dia comer, que a própria Morte tinha ficado sem a sua temível foice, numa noite de má memória (má memória para ela, Morte, claro)... Daí que a lindíssima senhora fosse pé ante-pé... no maior silêncio... quando viu um vulto caído por terra... Dirigiu-se a ele... levantou-lhe a face, deu-lhe a beber o resto da água que lhe restava no pequeno cantil de pele de borrego e afagou-lhe ligeiramente a testa suja de pó... Segundo reza a lenda após beber a água e recuperar a consciência, o bispo olhou na direção da sua salvadora e quando o olhar de ambos se cruzou, houve como que uma combustão interna em cada um deles que os fez ficar fascinados a olhar para o outro... Relembrando a sua condição de homem da Igreja e do celibato a que tinha feito votos... mesmo contra a vontade do seu coração, agora em chamas, o Bispo retirou-se apressadamente para a sua torre de onde se recusou a voltar a sair...  Um lugarejo formou-se em redor da torre para suprir as diferentes necessidades alimentares do bispo que apenas contactava com o exterior através de uma pequena fresta na pesada porta de ferro... A lindíssima senhora... com o coração flamejante de amor e paixão esperou dias e dias, semanas e semanas, meses e meses,  à porta da torre... por um olhar... um gesto... uma atenção do seu amado... Face à ausência de qualquer atenção da parte do bispo, que procurava cumprir os seus votos, a senhora foi definhando dia a dia... Muitos a tentaram com promessas e cortesias mas ela recusou-se sempre a olhar para outro cavalheiro e, no limite das suas forças físicas, à beira de um colapso nervoso-sentimental, retirou-se para um convento... Quando questionada pela Madre Superiora sobre as razões da sua inabalável vontade de seguir o caminho de noiva de Cristo ela, com as lágrimas nos olhos,  apontou para sul e balbuciou: " A... Torre... do Bispo..." A Madre Superiora sentiu um estranho rubor subir-lhe ás faces e, algo perplexa, perguntou-lhe: "Minha filha... ficaste em xeque...?"  "Não... snif... snif... xeque-mate... snif... snif"... Desse dia em diante o lugarejo passou a ser conhecido como Torre do Bispo...
A seguir a Torre do Bispo passámos, praticamente sem nos determos, por Almajões, outro pequeno povoado do distrito de Santarém  e, finalmente, chegámos a Pernes... Já não era sem tempo...

Em Pernes, tínhamos a Dª ermelinda à nossa espera e tudo voltou a ser como dantes... Nesta povoação e nos seus Bombeiros Voluntários onde almoçámos, há sempre um espaço disponível para recuperarmos forças e, quem estiver disposto, e necessitado, dispõe de uma zona reservada a massagens e primeiros socorros prestado por uma equipa de especialistas dos Bombeiros  de Pernes, auxiliados por alguns elementos da Cruz Vermelha... Há quem se sinta como novo, depois de passar por esta sala... No entanto, quem lá se dirigir, deve ter uma certa paciência, pois são vários os grupos de peregrinos que em Pernes fazem ponto de descanso pelo que, normalmente, há lugar a um tempo de espera... Entre aqueles grupos merece particular realce o grupo de peregrinos de Setúbal (se a memória me não falha) que todos os anos quando chegamos está a preparar uma deliciosa feijoada de chocos... Não que eu seja grande apreciador de feijoada... prefiro os chocos fora da feijoada... mas, dizem os entendidos que, pelo cheiro que emana daquele enorme tacho, deve ser de comer e chorar por mais... Feijoadas à parte, pessoalmente, prefiro ocupar o tempo livre a meditar profundamente, aqui em Pernes, na modalidade "ângulo obtuso"...
























































































































segunda-feira, 24 de junho de 2013

Peregrinação a Fátima 2013 - Terceiro dia - II

O percurso matinal, neste terceiro dia, não apresentou grandes problemas em termos de desníveis do terreno. Uma ou outra subida mais pronunciada mas nada que, de facto, mexesse na condição física de cada um dos Caminhantes... Isto não significa que todos estivéssemos fisicamente no auge ou que alguns de nós não estivéssemos a atravessar um processo de sofrimento físico... Simplesmente o sofrimento tornou-se de tal forma companheiro... de tal forma inquilino do nosso ser... que já o levamos connosco quase sem dar por isso... Esse sofrimento tem múltiplas formas e surge em qualquer momento... mesmo o mais inesperado... Uma bolha, um corte, uma unha que encrava, um joelho sem vontade de se mexer muito, a ameaça de um súbito movimento intestinal irresistível, enfim, são inúmeras as suas possíveis origens. Muitas vezes é um sofrimento por antecipação... Não que a dor da unha, do joelho ou o movimento intestinal seja já insuportável ou irresistível. Simplesmente a nossa mente tende a antecipar o momento em que o será e a dúvida instala-se: "Será que aguento até lá?"... Aguenta sim... Todos aguentamos...
O frio da madrugada ainda resistiu ao amanhecer  e aos primeiros raios de sol... Com o avançar da manhã foi pregressivamente substituído por temperaturas mais amenas e pelo azul de um céu rejuvenescido...  Dir-se-ia que após a fantástica experiência da madrugada o firmamento redescobriu novas e mais sublimes tonalidades de de azul, todas elas em torno do seu casamento com o branco... A paisagem à nossa volta, selvagem e agreste, relembrava-nos a potencialidade autoregeneradora da Natureza, indiferente à fúria destruidora da ação humana em busca de riqueza, ainda que à custa de novas e mais sofisticadas formas de exploração e contaminação de recursos. Aquela potencialidade da Natureza, expressa na expontaneidade com que todo o conjunto de plantas silvestres brotam do solo... Olhai... o tojo... a beldroega... o alecrim... a carqueja... Quanta força.. quanto poder... quanta vontade de ser... A expressão máxima do virtuosismo da ação criadora de Deus no seu momento primeiro... Espantoso... Como seriam atuais as palavras de Mateus e de Lucas: "Olhai as silvas e as murtas, ali... logo a seguir à Portela da Padeiras... elas não trabalham nem fiam, mas nem o próprio Salomão no auge da sua glória se vestiu elas." Sim... Espantoso... O que me leva, muitas vezes a questionar como é possível que o mesmo Deus, capaz de criar uma obra como esta, esteja tão distraído nos momentos em que cometem as maiores patifarias, as maiores atrocidades, as maiores barbáries... que assobie para o ar quando o lado mais tenebroso da natureza humana cavalga desenfreado pela sua Criação... É, de facto, estranho... Nos momentos em que é mais necessário... Como diz uma da Caminhantes: "Lamento que quando mais Dele necessito e por Ele chamo... Deus esteja a dormitar... ou mesmo... profundamente adormecido..." Eu iria mais longe... Será que Deus  não tem a plena consciência da sua divindade e consequentemente do seu poder...? Será que Deus não sabe que é Deus e que o seu poder em prol da sua Criação pode e deve ser usado? Será essa uma das causas da Sua Encarnação, ou seja, será  que Deus necessitou de encarnar para perceber quem não é, e ganhar consciência de quem é? Se assim foi o resultado ficou aquém das expetativas... O Teu Filho padeceu uma agonia atroz, morreu da morte mais indigna, pregado num madeiro... para que ... tudo continue na mesma...? Sim, claro a Nova Aliança... mas a Nova Aliança parece-me curto para tanto sofrimento... Será que... depois de assistires ao sofrimento do Teu Filho não te passaste a preocupar um pouco mais com o que se passa cá em baixo...?  Pois... Já vi que não... Como é que consegues ficar indiferente ao pranto daquela mãe cujo filho morre de fome nos seus braços? Como é que consegues assistir, de braços cruzados  ao massacre de povoações inteiras, no Ruanda, na Bósnia, em El Salvador, no Cambodja e em tantos outros lugares do mundo...? A tua inação faz-me por vezes lembrar as palavras do Poeta... "A Criação é obra de um Deus enlouquecido... Tudo é riso, loucura e morte..." Como podes fingir que não vês aquele ancião a ser desprezado, maltratado e humilhado pelo próprio filho? Porque é que nem sequer respondes aos que, com as lágrimas a correr pela face, te imploram pela vida do ente querido... ou apenas um pedaço de pão? Será que não vês as tuas igrejas cada vez mais vazias e o Santuário de Fátima cada vez mais cheio...? Será que ainda não percebeste que ao contrário do Teu silêncio indiferente e da Tua ausência permanente, Nossa Senhora está sempre connosco, falando, aconselhando, sugerindo... explicando? Será que... Deixa para lá... Sugiro-Te apenas que leias a obra de um teológo chamado Karl Ranher cujo título é "Apelos ao Deus do Silêncio..." tenta responder apenas um desses apelos... Pelo menos um... 
Ao longo da manhã fomos passando por diversas povoações. Portela das Padeiras... pequena povoação da freguesia de S. Salvador, cujos habitantes vivem basicamente da terra, da produção de cereais, azeite e vinho. Uma das localidades, das lezírias, permanentemente preocupada com o aumento de caudal do Tejo e as inundações que daí derivam... Reza a lenda que na origem do nome está o facto de, em tempos remotos, existir na zona, um antigo domínio senhorial. A esposa do senhor feudal encontrava-se frequentemente de esperanças (recordo que, na altura, pequenas distrações como televisão, computador, internet, ou mesmo   verdade e consequência não existam) e um ponto comum a esses estados era o seu desejo de pão acabado de sair do forno... Para satisfazer esses desejos o esposo mandou construir uma série de fornos onde eram cozidos os mais delicioso pães de trigo, milho e centeio... Manhã cedo, assim que se levantava (de facto não se levantava muito cedo...) e sentia o delicioso cheiro do pão acabado de fazer ia à janela e gritava a plenos pulmões: "Manueeeeeeeeeela das Padeiras"...  Dª Manuela era a chefe  das padeiras que assim que ouvia a senhora gritar... corria imediatamente para o domínio senhorial entregar o pão acabadinho de fazer... A grande questão é que o povo, com algumas dificuldades auditivas, percebia, não Manueeeeeeela, mas sim Porteeeeeela...pelo que o lugarejo veio a ser baptizado como Portela das Padeiras...  Quem não achou graça nenhuma, naturalmente, foi Dª Manuela que perdida a possibilidade de ver o seu nome imortalizada numa placa de início de povoação, procurou pôr fim aos seus dias através de  um mergulho convicto num enorme alguidar de farinha de trigo, sendo salva, no último momento por um destemido cavalheiro que vendo-a assim, tão alva por ela se enamorou e... foram felizes para sempre... claro...
Esta manhã foi, de facto, tranquila... O fresquinho da madrugada ajudou-nos a andar mais depressa pelo que, estávamos adiantados no timing de chegada a Pernes... razão pela qual fazemos aqui mais uma pequena paragem... e já seguimos viagem...