terça-feira, 1 de julho de 2014

Peregrinação a Fátima 2014 - Segundo dia - III

A manhã do segundo dia cumpriu-se  sob o céu azul e um vento fresquinho que continuava  a não nos dar uma ideia precisa de quão perigosa estava a ser a incidência dos raios ultravioleta. O percurso até ao Vale de Santarém foi feito por diversas etapas, com curtos periódos de descanso entre elas. Estes (períodos), sempre que possível, aconteciam em locais onde houvesse acesso ao toilete, geral ou específico, e a possibilidade de reconfortar a garganta e/ou o estômago. Em cada uma destas pausas, como ao longo de todo o percurso, temos sempre disponível o carro de apoio, onde nos podemos abastecer de fruta, água e aqueles deliciosos chocolates que me estão proibidos (nham... nham... nham). 
Fomos atravessando pequenos povoados, perdidos no tempo e, quiçá, no próprio espaço, como Cruz do Campo, o último lugarejo antes de entrarmos no Cartaxo. Em certos momentos, integrado no grupo ou ligeiramente adiantado, olhando o horizonte longínquo, onde o céu e a terra se tocam e se fundem, pergunto a mim mesmo qual é o meu insignificante papel neste cenário grandioso. Se todo o Universo tivesse consciência de si, como um todo individualizado (estou-me a referir ao próprio Universo, não a Deus), o que pensaria de mim, ou de cada um de nós, um mero detalhe neste fantástico quadro.  Vêm-me à memória as palavras de Pascal nos seus Pensamentos: "Porque, enfim, que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, uma imensidão em relação ao nada, um meio termo entre o nada e o todo. Infinitamente longe de compreender os extremos, a tal ponto o fim das coisas, assim como o seu princípio, estão para ele invencivelmente escondidos num segredo impenetrável, igualmente incapaz de ver o nada de onde é tirado e o infinito em que está mergulhado." A angústia que transparece desta palavras e que do ponto de vista existencial nos toca um pouco a todos, é admiravelmente suspensa numa breve passagem de uma das mais complexas obras  de Teixeira de Pascoaes, Duplo Passeio, quando o autor pergunta a uma mulher:
"Que faz vossemecê aqui ó mulherzinha?
- Estou aqui...
E, como se eu mostrasse desdém pela resposta, acrescentou:
- O senhor entende que é pouco eu estar aqui?"
A simplicidade desta resposta, a forma singela como a mulher explica todo o sentido da vida, deixou sem palavras o poeta-pensador. De facto, "estar aqui", ser, ser  consciente de ser, ser consciente de que o facto de ser implica uma responsabilidade acrescida, é qualquer coisa de extraordinário. O que interessam as última fronteiras, os abismos ontológicos, os dramas existenciais, se nos foi concedida a graça de ser e nessa graça está implícita toda a potencialidade de criar, de amar, de viver em consonância com o que nos é pedido por essa Força Geradora que no seu regaço nos transportou  através do Portal do Ser.
























Sem comentários:

Enviar um comentário