Partimos,
do jardim de Sacavém, rumo a Fátima, ainda a Praça da República não
registava qualquer movimento e (quase) toda a cidade dormia a sono
solto. Éramos doze, como os Apóstolos, cada um com a sua cruzada, cada
um com a sua missão. Seria talvez um exercício interessante perguntar a
cada peregrino (a quem, a partir de agora, chamarei Caminhante)
com qual dos apóstolos mais se identificava. Se questionado, o autor
destas linhas rapidamente se identificaria com Judas Iscariotes,
afastando, todavia, do cenário, quer os trinta dinheiros, quer,
naturalmente, a figueira... Ficar-se-ia pelo beijo... Aliás, um
espetador mais atento, notaria que logo na primeira foto, não estão os
doze, mas apenas onze...Onde estaria o tal... dito cujo... o
malfadado... o proscrito...? Ninguém sabe ao certo, no entanto, dá-se
como seguro que estaria com os trinta dinheiros a negociar o corte da
figueira... Just in case...
O
momento da partida... Os primeiros passos... Fila indiana... nunca
cumprida plenamente... Dª Eva... A primeira líder no terreno...
"Controlem o passo à frente... Mantenham a ligação... Da frente para
trás... Caminhem sempre pela berma... Temos um horário a cumprir, sem
ser necessário andar demasiado depressa... temos que respeitar a
condição física de cada um..." Somos doze... doze pessoas...
diferentes... Doze vidas... Doze mundos... Doze histórias por contar...
Seremos muito mais daqui a pouco... Pessoas que se conhecem e
desconhecem... Pessoas... De perto... muito perto... aqui mesmo ao
lado... e de longe... muito longe... Do outro lado do mundo... Os
primeiros metros... Os primeiros passos... Ultrapassámos a ponte sobre o
Trancão... Passámos ao largo da Bobadela... Seguimos pela estrada que
se abre à nossa frente... Escura... incerta... perigosa... penitente...
Locais de todos os dias... ou não... São João da Talha... Santa Iria...
primeira paragem... primeiro café... primeiro toilette... O regresso à
estrada... Tempo fresco, ameno, uns pingos de quando em vez, que não
chegam a molhar... Refrescam o corpo, alimentam o espírito, dessedentam a
alma... A forma delicada como cada gota toca a nossa pele nua faz-nos
perceber que foram espargidos, em forma de benção, por Nossa Senhora de
Fátima, a partir das franjas douradas do véu com que foi, lentamente,
desvelando a madrugada tardia... Uma benção aos seus Caminhantes... aos
que a procuram, aos que a seguem, que a respeitam, que a veneram
Alverca...
já manhã... seguimos caminho... Uns quilómetros à frente encontramos o Tejo em Alhandra.
Vai acompanhar-nos durante alguns quilómetros... Os canaviais à
beira-rio dançam ao sabor do vento, em movimentos ritmados, ora num, ora
noutro sentido, prestando o seu tributo, quer ao rio que lhes dá vida,
quer aos Caminhantes que por ali passam... O Tejo... O velho Tejo... na
sua majestosa lassidão... O seu curso tranquilo embala-nos... O espírito
das águas faz emergir as tágides camonianas, cuja imagem se vai
esboçando no desenhar harmonioso da ondulação... Um ouvido mais atento
conseguiria ouvir os seus cânticos... Silêncio por favor... Silêncio...
Escutai:
Viemos de longe... de oceanos distantes...
Da mais remota profundidade subaquática...
Por entre ventos, tempestades e ondas gigantes...
Entoar loas em honra de Nossa Senhora de Fátima...
Cruzámos os sete mares de lés a lés
Do Golfo do México à Baía de Bengala
Trazendo o sofrimento de quem sente, sofre e cala
Para em silêncio nos prostramos a teus pés.
A ponte de Vila Franca... É já ali... ao fundo... A ponte torna-se a referência próxima... não a chegaremos a atravessar... mas está ali... com o trânsito parado... algum acidente no tabuleiro... ou à saída... Em Alhandra o caminho torna-se mais fácil. Zona de lazer, plana, destinada à prática desportiva... Apesar de ser 4ª feira inúmeras pessoas usufruem do espaço... Cruzam-se entre elas... cruzam-se com os Caminhantes... num e noutro sentido... a pé... de bicicleta... a correr... a passo... vão e vêm... absortos... ausentes...
Vila Franca de Xira... A terra das Festas do Barrete Vermelho... Uma terra em decadência... evidente... O fim da ligação ao Tejo... A partir de agora fletiremos para o interior... para já o jardim... A junção do grupo... Os restantes Caminhantes... Caras conhecidas... O reencontro... a um ano de distância... Caras novas... enigmáticas... Dª Ermelinda... assume a liderança... a chamada... a resposta... Os primeiros ajustes no equipamento... Os pés que já ardem... e os que ainda não... aquela bolha que nasce... e a outra que não chega a ser... Está na hora de voltar ao caminho... em direção a Castanheira do Ribatejo...
Cruzámos os sete mares de lés a lés
Do Golfo do México à Baía de Bengala
Trazendo o sofrimento de quem sente, sofre e cala
Para em silêncio nos prostramos a teus pés.
A ponte de Vila Franca... É já ali... ao fundo... A ponte torna-se a referência próxima... não a chegaremos a atravessar... mas está ali... com o trânsito parado... algum acidente no tabuleiro... ou à saída... Em Alhandra o caminho torna-se mais fácil. Zona de lazer, plana, destinada à prática desportiva... Apesar de ser 4ª feira inúmeras pessoas usufruem do espaço... Cruzam-se entre elas... cruzam-se com os Caminhantes... num e noutro sentido... a pé... de bicicleta... a correr... a passo... vão e vêm... absortos... ausentes...
Vila Franca de Xira... A terra das Festas do Barrete Vermelho... Uma terra em decadência... evidente... O fim da ligação ao Tejo... A partir de agora fletiremos para o interior... para já o jardim... A junção do grupo... Os restantes Caminhantes... Caras conhecidas... O reencontro... a um ano de distância... Caras novas... enigmáticas... Dª Ermelinda... assume a liderança... a chamada... a resposta... Os primeiros ajustes no equipamento... Os pés que já ardem... e os que ainda não... aquela bolha que nasce... e a outra que não chega a ser... Está na hora de voltar ao caminho... em direção a Castanheira do Ribatejo...
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