Após o almoço, em Pernes há, sempre, um momento reservado a uma merecida siesta... que grande parte de nós não recusa. Como normalmente adoto a posição de ângulo obtuso antes do almoço, depois da refeição já perdi o sono e tenho que dar azo à minha imaginação para entreter o tempo de espera... No entanto, creio que esta passagem por Pernes foi mais curta este ano, pois não tenho registo de quaisquer pensamentos que me tenham ocorrido neste espaço de tempo... A não ser...
Era o que eu ia escrever... "... a não ser... não... tenho a certeza de que não me vieram nenhuns..."
É nesta localidade que tiramos, normalmente, a foto de família, na qual falta o Sr. Fernando, ocupado com os afazeres próprios da sua atividade profissional de fotógrafo... Também o décimo segundo apóstolo se encontrava em parte incerta... como habitualmente... É um caso perdido... não nos preocupemos mais com ele...
Após a foto de família soaram os três apitos, soprados pela Dª Ermelinda... e metemos pernas à estrada. O Sr. Fernando, atrás referido, elege estes momentos para registar algumas imagens para a posteridade. Não é invulgar, muito pelo contrário, encontrá-lo de objetiva em punho registando aqueles momentos em imagens cuja qualidade pede meças a qualquer fotógrafo da nossa praça. O retorno ao alcatrão fez-se com a alegria habitual que carateriza os Caminhantes da Senhora de Fátima. Mesmo que não se expressem de viva voz há cânticos no ar que emanam do fundo do coração de cada um dos Caminhantes e que um ouvido mais atento e mais sensível com certeza não deixará escapar... A tarde estava quente... e tendia a aquecer mais ainda... Talvez não... Estamos na parte final do pico do calor, altura em que o sol vai deixando de estar a prumo... Ainda assim suficientemente tórrido para tornar ainda mais dura a jornada vespertina que, devido ás caraterísticas do terreno, já o era por natureza. O percurso entre Pernes e Alcanena é feito de um constante sobe e desce com rampas pronunciadas, ora no sentido ascendente, ora no sentido descendente... É o tipo de percurso "rompe-pernas" que obriga os músculos a um constante esforço, em movimentos de sentidos opostos, que a temperatura elevada torna um pouco mais complicado. Neste sentido é perfeitamente natural que o grupo sofra algumas fraturas, face à diferente condição física de cada Caminhante. Nada de verdadeiramente preocupante, até porque quando as fraturas são mais vincadas e a Dª São e o sr. Fernando deixam de ser vistos no horizonte próximo, a montante, o Sr. Luís impõe um alto à frente e respetiva paragem para permitir o reagrupamento. Estes momentos de paragem podem ser algo complicados para quem esteja com um ritmo certo, os músculos oleados e, eventualmente, uma hipotética dor controlada. O recomeço é sempre doloroso. Neste tipo de paragens breves opto sempre por não deixar os músculos pararem e a própria dor é convidada a continuar a doer para não perder o hábito.
Recordo-me que há dois anos fiz este percurso na companhia da Dª Maria José, a quem daqui saúdo, naturalmente, e praticamente voámos rampa acima, rampa abaixo. Creio que nem demos pelos desníveis do terreno. Neste dia, este ano, tornou-se ainda mais importante a presença da Dª Ermelinda, da Dª Rosa e da esposa do Sr. Sousa Pais na distribuição de água que foi sendo consumida na proporção direta da intensidade do calor e do cansaço acumulado. É, de facto, um esforço considerável que fazem ao longo destes dias os Caminhantes da Senhora de Fátima. Afasto-me um pouco da coluna, olho para cada um dos Caminhantes, individualmente, e para o grupo na sua totalidade... Observando-vos no terreno, nestas jornadas, não errantes, mas ainda assim com um dose qb de irreverência e de loucura, vem-me à memória... um homem... o único homem a quem, como diz o Poeta, "Deus se viu obrigado a pedir clemência...": "Saulo, Saulo, por que me persegues...?" Embora normalmente não inveje a experiência alheia... não me importava de trocar uns anos de vida pela experiência, ímpar, fabulosa, iniciática, como a da Estrada de Damasco...
Se há personagem na História da Igreja que eu, de facto, admiro... Se me fosse permitido "viver" a vida de alguém, numa outra encarnação, claro, essa vida seria a de Paulo de Tarso... Dispensava era morrer no incêndio de Roma, ás mãos de Nero no pico de sua loucura incontrolável... Preferia morrer num ambiente, não tão quente... enfim... talvez nos braços de...
- Não...
- Não... Claro que não... preferia morrer num ambiente mais fresquinho... sem braços...
Regressando a Paulo... Que vida extraordinária... Percorrer milhas atrás de milhas... sem descanso... em condições tantas vezes adversas, num ambiente tenso e perigoso como o do Próximo Oriente, apenas para levar a Palavra de Cristo, é algo absolutamente notável... Paulo representa a fé espontânea e viva, simples e pura... sem teologia nem clero hierarquizado... Uma fé consubstanciada no Deus vivo... no Deus que trouxe consigo o vento de mudança e, com ele, o inefável sentimento da Origem... Olhando para vós, caminhando sob este sol escaldante... vendo as marcas do esforço bem vincadas no vosso rosto e, ainda assim, persistirem passo a passo, metro a metro... consigo transportar-vos até ás décadas de 50 e 60 do primeiro século da nossa era... ao lado de Paulo... no papel dos seus companheiros de fé e de caminhada... Timóteo... Marcos... Barnabé... Stefnas... Priscila... Fortunatos... Áquila... Lídia... Soprastos... e tantos outros... percorrendo os caminhos e as pequenas povoações onde existiam gentes a ser convertidas e almas a ser salvas... Vejo-vos a levarem a palavra de Cristo... não na Azambuja, no Cartaxo ou em Almejões... mas lá... em povoações tão desconhecidas como Filipo... Tessalónica... Eféso... Corinto... Berêa... o Vale do Oronte... Antioquia... Neapolis... Icónio... Vós sois... os companheiros e companheiras... não de São Paulo... que era demasiado humilde para aceitar esse São... mas de Paulo... Paulo de Tarso... o homem que impediu que o Cristianismo se limitasse a ser uma obscura seita judaica, como pretendiam Pedro e Tiago... Não percebo muito bem como é que Cristo elegeu Pedro como a primeira pedra da sua Igreja... Vejo sempre Pedro a abanar a cabeça para um lado e para o outro... "Não... não conheço... Nunca o vi..." Paulo ainda tem uma opinião pior como escreve na Carta aos Gálatas... Vós Caminhantes da Senhora de Fátima... estais muito longe de Pedro... ides ali... lado a lado com Paulo... Paulo de Tarso...
A entrada em Alcanena continuou a oferecer-nos rampas acentuadas... Uma e outra... uma rotunda.... e outra ainda... é só mais uma subida e chegamos à Escola Secundária .onde descansaremos esta noite... Pode-se dizer que bem o merecemos...
Recordo-me que há dois anos fiz este percurso na companhia da Dª Maria José, a quem daqui saúdo, naturalmente, e praticamente voámos rampa acima, rampa abaixo. Creio que nem demos pelos desníveis do terreno. Neste dia, este ano, tornou-se ainda mais importante a presença da Dª Ermelinda, da Dª Rosa e da esposa do Sr. Sousa Pais na distribuição de água que foi sendo consumida na proporção direta da intensidade do calor e do cansaço acumulado. É, de facto, um esforço considerável que fazem ao longo destes dias os Caminhantes da Senhora de Fátima. Afasto-me um pouco da coluna, olho para cada um dos Caminhantes, individualmente, e para o grupo na sua totalidade... Observando-vos no terreno, nestas jornadas, não errantes, mas ainda assim com um dose qb de irreverência e de loucura, vem-me à memória... um homem... o único homem a quem, como diz o Poeta, "Deus se viu obrigado a pedir clemência...": "Saulo, Saulo, por que me persegues...?" Embora normalmente não inveje a experiência alheia... não me importava de trocar uns anos de vida pela experiência, ímpar, fabulosa, iniciática, como a da Estrada de Damasco...
Se há personagem na História da Igreja que eu, de facto, admiro... Se me fosse permitido "viver" a vida de alguém, numa outra encarnação, claro, essa vida seria a de Paulo de Tarso... Dispensava era morrer no incêndio de Roma, ás mãos de Nero no pico de sua loucura incontrolável... Preferia morrer num ambiente, não tão quente... enfim... talvez nos braços de...
- Não...
- Não... Claro que não... preferia morrer num ambiente mais fresquinho... sem braços...
Regressando a Paulo... Que vida extraordinária... Percorrer milhas atrás de milhas... sem descanso... em condições tantas vezes adversas, num ambiente tenso e perigoso como o do Próximo Oriente, apenas para levar a Palavra de Cristo, é algo absolutamente notável... Paulo representa a fé espontânea e viva, simples e pura... sem teologia nem clero hierarquizado... Uma fé consubstanciada no Deus vivo... no Deus que trouxe consigo o vento de mudança e, com ele, o inefável sentimento da Origem... Olhando para vós, caminhando sob este sol escaldante... vendo as marcas do esforço bem vincadas no vosso rosto e, ainda assim, persistirem passo a passo, metro a metro... consigo transportar-vos até ás décadas de 50 e 60 do primeiro século da nossa era... ao lado de Paulo... no papel dos seus companheiros de fé e de caminhada... Timóteo... Marcos... Barnabé... Stefnas... Priscila... Fortunatos... Áquila... Lídia... Soprastos... e tantos outros... percorrendo os caminhos e as pequenas povoações onde existiam gentes a ser convertidas e almas a ser salvas... Vejo-vos a levarem a palavra de Cristo... não na Azambuja, no Cartaxo ou em Almejões... mas lá... em povoações tão desconhecidas como Filipo... Tessalónica... Eféso... Corinto... Berêa... o Vale do Oronte... Antioquia... Neapolis... Icónio... Vós sois... os companheiros e companheiras... não de São Paulo... que era demasiado humilde para aceitar esse São... mas de Paulo... Paulo de Tarso... o homem que impediu que o Cristianismo se limitasse a ser uma obscura seita judaica, como pretendiam Pedro e Tiago... Não percebo muito bem como é que Cristo elegeu Pedro como a primeira pedra da sua Igreja... Vejo sempre Pedro a abanar a cabeça para um lado e para o outro... "Não... não conheço... Nunca o vi..." Paulo ainda tem uma opinião pior como escreve na Carta aos Gálatas... Vós Caminhantes da Senhora de Fátima... estais muito longe de Pedro... ides ali... lado a lado com Paulo... Paulo de Tarso...
A entrada em Alcanena continuou a oferecer-nos rampas acentuadas... Uma e outra... uma rotunda.... e outra ainda... é só mais uma subida e chegamos à Escola Secundária .onde descansaremos esta noite... Pode-se dizer que bem o merecemos...