quarta-feira, 5 de junho de 2013

Peregrinação a Fátima 2013 - Primeiro dia - II

De Vila Franca a Castanheira do Ribatejo é um saltinho... Terreno plano, uma ou outra subida, sem grandes desníveis, sem grandes dificuldades a não ser as inerentes ao desgaste provocado pelo próprio caminhar... Especialmente para quem partiu 21 quilómetros atrás... Para estes começam as primeiras dificuldades de ordem física... A paragem foi benéfica para recuperar forças, mas o reinício é sempre doloroso. A readaptação ao esforço... os músculos que arrefeceram e estão  renitentes em voltar  a ganhar elasticidade... Reencontrar a dor... aquela dor... que já se tinha tornado tão natural como o próprio caminhar... e que agora parece estar mais viva, mais acesa, mais presente... Uma bolha, um calo, um corte... Uma dor... que vai e vem... vem mais do que vai... um pé que dói, um tornozelo que cede, um joelho que grita... A manhã deste primeiro dia traz, a alguns de nós, uma angústia estrutural que abala todo o nosso ser. Essa angústia pode ser sintetizada numa única pergunta: "Se já estou com tantas dores, se já sinto tanta dificuldade agora... como é que vou chegar... não a Fátima... mas ao final do dia...?" Creio que todos nós, numa qualquer ocasião, já nos fizemos essa pergunta intimamente, num estado de espírito que medeia entre o desânimo e o desespero, consoante a maior ou menor intensidade da dor/dificuldade/desconforto... Nesses momentos há que cerrar os dentes... seguir em frente... passo a passo... metro a metro... não mostrar o sofrimento que corroi... fechar a ligação entre o corpo e o cérebro... impedir que este reconheça a dor enquanto tal... e a transforme numa companheira de caminhada... Cada um dos Caminhantes tem a sua própria estratégia para lidar com estes momentos... A sua forma pessoal e única de impedir aquela ligação... Pessoalmente, nos momentos de maior dificuldade, construo, mentalmente, pequenos sketchs de caráter hilariante, aproveitando as mais vulgares cenas do dia a dia. Vou ao limite do cómico, esticando-o até tocar no grotesco, e não será demasiado invulgar ser  encontrado, sozinho, a rir a bandeiras despregadas, da própria cena que mentalmente produzi. Enquanto rio não sinto dor... e a própria dor começa também a rir... 
Em Castanheira do Ribatejo  fomos alimentar o espírito antes de o fazer ao corpo. Na igreja Matriz de Castanheira foi celebrada uma eucaristia pelo Sr. Padre Paulo, pároco de Sacavém. Esta celebração foi importante porque permitiu suprir uma lacuna que existia neste grupo e que se prendia com a necessidade de se sentir uma ligação entre o braço institucional da Igreja Católica de Sacavém e o conjunto de pessoas que, unidas num esforço comum, palmilham a estrada, rumo a Fátima, levando com eles o nome da cidade. Neste sentido o sr. padre Paulo proferiu umas palavras adequadas à ocasião. Deu-nos a sua benção, relembrou o papel de Nossa Senhora no âmbito do Cristianismo, ou seja, enquanto mediadora do  caminho para o Filho e não perdeu a oportunidade de relembrar, aos católicos praticantes, a importância da Confissão e da Comunhão (indissociáveis em si mesmas) em todo este processo de espiritualização e de aproximação a Nossa Senhora e a Jesus Cristo. Para os restantes Caminhantes o senhor padre Paulo desejou que  este caminho fosse mais do que o cumprir de um percurso meramente físico e que fossem alcançados os objetivos espirituais a que cada um se tinha proposto, numa lógica de solidariedade e amor pelo próximo que, no fundo, sustenta toda a tradição cristã.









































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