Este terceiro dia foi particularmente duro, nomeadamente na parte da tarde, quando ao desnível o terreno se associou uma temperatura elevada. O sr. Fernando, pai-daquela-moça-cujo-aniversário-celebrámos (...), considera que este é mesmo o dia mais duro, com o calor e o terreno acidentado. Ainda alvitrei que talvez "amanhã com a subida da serra...", mas o senhor respondeu-me e bem, que "amanhã subimos a serra logo de manhã, pela fresquinha, enquanto hoje já tínhamos muitos quilómetros nas pernas". Por tudo isto soube melhor o retemperador duche de água quente nos balneários da escola e o jantar no refeitório. O merecido repouso aconteceu, para a maior parte de nós, pouco depois da refeição e, pela primeira e única vez, ao longo destes dias (ou melhor, destas noites), dormimos todos no mesmo espaço, que partilhámos, sem problemas, em metade do ginásio. A outra metade estava reservada para outro grupo de peregrinos e a coabitção aconteceu sem quaisquer incidentes. Nesta altura em que todos, ou quase todos, os Caminhantes adormeceram (os do nosso grupo, porque o outro grupo ainda galhofa... nada que me preocupe muito pois adormeço em quaisquer condições) faço um pequeno balanço pessoal do dia e não encontro grandes diferenças relativamente a ontem... Não senti problemas de ordem física... Sim... É claro que as dores estão cá... O joelho direito e o pé do mesmo lado continuam a doer... mas é uma dor controlada... mais ou menos... Até ver... O frio e o calor também se suportaram bem... Há que os deixar fazer parte de nós... Senti-los, não como algo exterior, que nos atormenta, algo que a Natureza nos impõe e que temos que suportar, mas como uma forma de união com as diferentes manifestações dessa mesma Natureza. Em vez de os temermos e de nos defendermos... agasalhando-nos... mais e mais... ou desnudando-nos... (oba... esta parte até que não é de todo negativa... desculpem... mas não consegui controlar os dedos) vamos abrir-nos a eles... deixá-los partilhar o nosso ser, respondendo ao convite que a Natureza, em todo o seu explendor, permanentemente nos endereça...
O ambiente aqui dentro do ginásio é acolhedor, embora se ouça o silvar do vento no exterior... A minha posição não é particularmente confortável... Estou em linha reta com a porta do ginásio que, por norma, as pessoas deixam aberta... o que significa que o tal vento que silva vem todo até mim... Que noite tão interessante que vai ser a apanhar este vento... Não me posso queixar... Fui por diversas vezes avisado quer pela Dª Ermelinda, quer pela Dª Helena que aquele lugar não ia ser muito favorável... mas fui teimoso e ali fiquei.... (Na realidade fui mais perguiçoso do que teimoso; na minha incorrigível perguiça, não quiz mexer este corpo velho e cansado...)... No entanto, nem o vento me impediu de dormir... Adotei uma posição fetal tão encolhida que me consegui esconder completamente atrás do saco... E agora... vamos lá passar pelo sono...
Sem comentários:
Enviar um comentário