sexta-feira, 21 de junho de 2013

Peregrinação a Fátima 2013 - Terceiro dia - I

O terceiro dia acordou fresquinho... A temperatura desceu... ou nós ao andarmos para norte fomos ao encontro de temperaturas mais baixas... Entre as 3H30 e as 4H00 levantaram-se os corpos, arrumaram-se os pertences, lavaram-se as caras...e tudo o mais que se podia e devia lavar... Em pouco tempo o carro de apoio estava carregado e os Caminhantes prontos para a marcha... Cá fora estava um pouco mais fresquinho... Há que vestir mais um agasalho... Neste principio de dia, ainda madrugada, sentia-se no ar que... algo não estava... não estava como habitualmente... O que nos faltava...  não era possível explicar por palavras... Havia uma estranha sensação de ausência... de... Um certo sentimento de orfandade... que  nos apertava um bocadinho o coração e o tocava com alguma angústia...  Dª Ermelinda não estava presente... e a sua ausência era algo de palpável, que se sentia em cada momento... em cada olhar... em cada palavra... Isto não significa que a Dª Rosa e a Dª Helena não tivessem estado à altura... Com certeza que sim... Organizaram e lideraram a partida, guiaram-nos até à pastelaria onde tomámos o pequeno-almoço e tudo correu na perfeição até Pernes... Apenas se mantinha aquele sentimento de ausência...
Regressados à estrada percebemos que o frio se tinha tornado um pouco mais intenso... Nada que preocupasse muito os Caminhantes que seguiram em fila indiana pelas estradas que, no final do dia, nos haviam de conduzir a Alcanena... Nestes momentos em que a temperatura desce e parece não haver forma de contrariar o frio, há a tendência de o grupo ir mais compacto. É uma reação natural que permite não só que se mantenha algum calor humano ativo, como impede o frio de abrir mais brechas nas nossas parcas defesas... Brrrrrrrrrrrrrrrrr...  Está tanto frio... 
- Não ande aqui ao pé de mim que ainda me faz mais frio...
-  Sim, sim,  Dª Eva... eu afasto-me já... vou dar um pulinho ali à frente...



A noite avança ao ritmo do pulsar do Universo...  O silêncio que a enforma reflete ainda os sons originais da Nascente... Há como que um regresso... uma aproximação... uma tangência... aos limites intangíveis da Noite Primitiva... à Porta Originária, em cujo limiar o Ser e o Não-Ser se fundem... se anulam... e se apartam... Uma ignota dimensão   encantada, tecida em sons de luar e adornada por pequenos diamantes de luz, atravessa o horizonte negro e... envolve-nos... arrebata-nos... deslumbra-nos... cinge-nos num abraço apertado... Não... Não... Não quero... Não quero ficar envolvido neste abraço encantado... Tenho que fugir... correr... Vou-me embora... Corro... Corro... Corro... Uma subida... corro mais e mais... sinto o coração quase a saltar-me do peito... arf... arf... arf... mas... consigo escapar-me até  ao alto deste monte... Daqui tenho uma visão espetacular... Absolutamente única... Toda a planície se estende à minha frente... Um fabuloso jogo de luzes desenha-se no firmamento... Luzes interiores e exteriores ao espetro eletromagnético... Para cá do infravermelho... Irsina... Mogitre... Latsu... e para lá do ultravioleta... Simbuti... Alrtoiy... Knedutei... Cores jamais captadas pela visão humana...  Há algo de extraordinário a acontecer...  O abraço encantado que vos cinge e ao qual escapei, mais do que um jogo de luzes deixa entrever um jogo de espelhos... O céu estrelado inverte a sua posição... sim... sim... há como que uma inversão de planos... Nós somos o céu estrelado... ou melhor vós sois o céu estrelado... Vós, Caminhantes da Senhora de Fátima, sois agora várias dezenas de pequenas luzes que enxameiam o Universo e lhe dão vida... Ocupais a posição das estrelas e... É algo verdadeiramente fabuloso... único... multidimensional...
Olhai... O Sr. Luís... Alioth... Dª Marília... Mizar...  Dª Teresa... Alcor e Dª Heloísa... Alkaid... desenham as estrelas da cauda da Ursa Maior. ... Sr. Mário... Dubhe... O casal amigo do sr. Mário... inseparáveis na terra... inseparáveis no firmamento...... Merak... e Phad...  O moço amigo do Sr. Mário e do casal inseparável... Megrez...   fecham os quatro vértices da constelação... Não tenho palavras para vos descrever esta fantástica visão que me deixa verdadeiramente embriagado de tanta... Vede... Um pouco mais para norte... as duas guardas da Ursa Menor... já no Polo Norte Celeste... Dª Rosa... Kochab... Dª Helena... Perkad... Dª Ermelinda... a Estrela Polar...  Ainda mais a norte  o Sr. Amaral... Shedar... a sua esposa... Caph...  e as duas senhoras amigas da Dª Helena... Tsi e Ruchbah formam o W luminoso da Cassiopeia ...  Deleitado, deixo o meu olhar correr para sul, para este firmamento negro, cada vez mais colorido a ouro e prata.... Ali... Já ali... Já na constelação de Centauro... Dª Eva... a Próxima de Centauro... e as suas amigas... Alfa de Centauro A (a senhora que cortou o cabelo do ano passado para este ano)  e Alfa de Centauro B (não sei de facto o seu nome, mas conversava muito com a Dª Eva)... Um pouco mais afastado o Sr. Carlos da Bobadela... Hamal... na constelação de Carneiro...  Dª Lídia...  Alphard ...a mais brilhante de Hydra... Paulo... és Deneb... a mais brilhante de Cisne... Dª Laura... Mirfak... a mais brilhante de Perseus... o céu tem realmente um novo brilho... convosco... Dª Fátima... Antares... o seu filho Miguel... Spica... e João... Regulus formam o trio de estrelas mais brilhantes do movimento de Escorpião em torno do seu sol... Luís... Aldebaran e o seu amigo Carlos... Alnath... as mais brilhantes de Touro... O Sr. Humberto... Markab... das mais brilhantes de Pégaso... A senhora que vai ao lado da Dª Lídia na décima foto deste artigo é... Altair... a mais brilhante da Águia...
A senhora que teve o pequeno colapso na Azambuja é Adhara... uma das mais brilhantes do Cão Maior... O Sr. Reis e Dª Orlanda... Kaus Australis e Kaus Media.... ali na direção de Sagitário... Dª Perpétua... uma das mais brilhantes de Gémeos... Dª Sandra... Nunki... brilhando também na direção de Sagitário... O senhor de da barba e boné azul... Acrux... a mais brilhante do Cruzeiro do Sul... Dª Lina... Fomalhaut... a mais brilhante do Peixe Austral... Estou absolutamente esmagado com a magnitude deste Universo que se transforma a cada momento através de vós... Sr. Fernando,  pai da moça cujo aniversário celebrámos há dois anos na capela a caminho de Alcanena... Prócion... a mais brilhante do Cão Menor... Dª Elisabete... Miaplacidus... estrela que brilha na direção da constelação de Carina... A senhora que encontrei a meio da Av. da Índia no dia 21 de Abril... Alnair... brilha na direção da constelação de Grou... A senhora do chapéu preto... Deneb Kaitos... estrela que brilha na direção da constelação da Baleia... A senhora que tem um familiar que utiliza uma máquina de oxigénio semelhante à minha... Ankaa... a mais brilhante de Phoenix...
O senhor de bigode, creio que familiar da Dª Celeste... é Sirrah... já na Andrómeda onde é a mais brilhante... Dª Celeste... sim... é a Dª Celeste... não está fisicamente com o grupo mas pertence-lhe também a sua posição no firmamento... Dª Celeste  é uma das três Marias lá, Alnilam, no longínquo Orion... As outras duas são Dª Esperança... Mintaka...  Dª Maria José... Alnitaka... Ainda no Orion... o irmão da Dª Esperança... Saiph... Se prolongarmos a nossa vista a partir de Orion encontramos as duas mais brilhantes estrelas de Gémeos... Sr. Sousa Pais... Castor  e a sua esposa... Pollux... Dª Ana... Sadalsuud... a mais brilhante de Aquário... As estrelas mais longínquas... Dª São... Cor Leone... e o Sr. Fernando... Kabelaced... na Constelação de Leão...
Estou sentado no alto desta pequena colina há horas... que não correm... para que o Universo corra... Assisto a este espetáculo único... feito de luz e movimento... em que o vosso caminhar é o pulsar da Criação... Um olhar mais atento permitiria perceber a face de Nossa Senhora desenhada na escuridão prateada, segurando o seu manto Sagrado em torno dos seus caminhantes... O sorriso terno que lhe despontava nos lábios é o espelho fiel do bater do seu coração... Sorri pela felicidade de sentir que os seus filhos levam no coração a potencialidade de erguer um novo mundo... Levanta os olhos ao céu e e dá graças ao Seu Filho pela oportunidade de conduzir os seus Caminhantes até Ele...
No final deste momento inolvidável uma questão se levanta em todos vós... tenho a certeza... Então... e Sirius... onde está Sirius... a estrela mais brilhante de todo o Universo conhecido... lá bem longe na constelação de Cão Maior...? Ninguém representa Sirius...? Sim... de facto alguém representa o papel de Sirius... mas acontece que Sirius está prometida desde há algum tempo... e mesmo tendo consciência de que nunca a conseguirei entregar a quem prometi... guardo-a aqui bem junto ao meu coração... Por isso Sirius não faz parte deste espetáculo grandioso... As promessas são para cumprir...
- Como folgo em ouvi as tuas palavras...
- Senhora... mas que palavras...? Não disse nada de especial...
"As promessas são para cumprir..."
- Eu disse isso...?
- Não disseste... mas escreveste... Se quiseres conferir...
- Pois foi... mas não nos podemos esquecer que há a letra da promessa e o espírito da promessa... e o tempo da promessa... e a promessa temporária... Há sempre uma possível nuance... enfim... 
- Não comeces com os subterfúgios do costume... termina o texto que estás quase a chegar a Pernes...
PS: Peço desculpa se me esqueci de alguém... Caso tenha acontecido sereis... Busakan... da Coroa Boreal... lá no hemisfério celestial norte...



















































terça-feira, 18 de junho de 2013

Peregrinação a Fátima 2013 - Segundo dia - IV

Este segundo dia está praticamente a chegar ao seu final. Depois do breve descanso junto à estátua de Salgueiro Maia metemos pernas a caminho, rumo ao nosso local de pernoita, as antigas instalações da Escola Prática de Cavalaria. Grande parte desta infraestrutura está abandonada, em rápido processo de degradação, em muitos casos, já irreversível. A Câmara Municipal de Santarém mantém em uso parte das  instalações, de forma a evitar que a erosão seja total, mas é manifestamente incapaz de, financeiramente, recuperar o espaço cujo orçamento deve subir geometricamente dia a dia... Naturalmente que ninguém é responsável, nem responsabilizado por este tipo de crimes ambientais e financeiros... São decisões que custam milhões ao erário público e que daí a uns anos são revogadas por outras cuja sustentabilidade é também muito duvidosa... Durante as últimas (múltiplas) reestruturações do Exército sucederam-se os exemplos da irresponsabilidade de uma máquina do Estado  insensível, incompetente e inculta... O espelho perfeito dos políticos que a lideram... desde há trinta e tal anos a esta parte...Vêm-me à memória os valiosos azulejos da segunda metade do século XVII que ornamentam(avam) as paredes dos claustros do Batalhão de Adidos,  em Sacavém... e que provavelmente se encontram em elevado estado de degradação... se é que ainda existem... Lembro-me do quase mítico DGMT em Linda-a-Velha que entregue à Junta de Freguesia serve agora (ao que me constou) para albergar... ciganos... Também as antigas baterias de artilharia de costa estão totalmente ao abandono e são utilizadas, como local de trabalho de prostitutas... e outros profissionais ligados a áreas similares... Creio que o próprio sindicato faz de lá a sua sede... Quem não respeita as memórias que os antepassados deixaram dificilmente será respeitado pelas gerações vindouras... Há aqui 4 ou 5 gerações que vão ficar muito mal vistas quando a história se escrever...
Nas antigas instalações militares, onde pernoitámos, a rotina foi mais ou menos semelhante à da Azambuja, com dois pequenos detalhes que marcaram a diferença. Por questões logísticas o jantar ficou a cargo de cada um dos Caminhantes e para tomar banho de água quente havia que calcorrear uma distância muito interessante... Eu optei pelo banho de água fria,     nos chuveiros   da antiga messe de oficiais,   Lá... Lááááááááááá... lá... lá, lá, lá... láaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... Saímos do duche como novos... com as cordas vocais esticadas ao máximo...  Foi realmente notável o civismo, a educação, a sensatez e a sensibilidade de todo o grupo que conseguiu, sem atritos, coabitar dentro de uns balneários em que existiam apenas dois lavatórios, três toiletes e três chuveiros para cerca de 50 pessoas... de ambos os sexos... Notável... O único episódio mais... engraçado... foi apenas um pequeno diálogo...  muito fecundo...

- Ba, ba ba ba... (Boca cheia de pasta de dentes)...
- Ba ba, ba, ba  o quê? (pessoa  esgueirando-se de fininho em direção ao toilete vago)
- Ba, ba, bu ba bu (Boca tentando livrar-se rapidamente da pasta e da água... dedo indicador apontando... enfim... para baixo)
- Tá bem... Já te atendo... deves ter dormido virado para a lua... (praticamente a entrar no toilete)... Tás a apontar para aí para quê...? Tens que te queixar à tua mulher não a mim...
- Bu, bu, ba, psshhhhlttttttttt (finalmente a boca livre) Sou eu o próximo a ir ao toilete...
- Tanta conversa por causa disso... tá bem vai lá... se estás assim com tanta pressa... Haja paciência...

Quase sem termos dado por isso o segundo dia também se passou... Para mim, pessoalmente, não começou muito bem. Na Azambuja fui o último a entregar o saco no carro de apoio e, mesmo assim tive que ter a ajuda do Sr. Fernando e do Luís que, quando foram verificar se estava alguém para trás, me encontraram numa árdua luta com o saco-cama... Percebendo o drama o sr. Fernando bichanou-me ao ouvido:
- Para conseguir enrolar o saco-cama, tem que sair dentro dele...
- Ahhhhhhhhhh...
Para que o início da manhã fosse perfeito perdi os documentos... O lado positivo desta situação foi que não soube que os tinha perdido. Apenas dei conta quando João Apolinário mos veio entregar...  depois de os ter encontrado algures no Centro Social... Obrigado João... A seguir ao almoço dediquei-me à minha atividade favorita... Um profundo processo de meditação criadora... captado pelo João... Obrigado uma vez mais...




























































































segunda-feira, 17 de junho de 2013

Peregrinação a Fátima 2013 - Segundo dia - III

Ao bacalhau assado, no Vale de Santarém, seguiu-se um período para a digestão, o descanso, o convívio e o tratamento dos pequenos problemas que normalmente surgem, mesmo quando julgamos que a eles estamos imunes. Ao longo de um percurso desta natureza, com muitos quilómetros pela frente, a cada dia há sempre duas formas de lidar com este tipo de mazelas. Uma é a de procurar aliviar/tratar o problema na primeira paragem, ou a cada paragem. Luís Barrento, por exemplo, é um adepto confesso desta prática. Eu prefiro a outra via. A não ser que as dores sejam insuportáveis (e até hoje nunca o foram) prefiro não mexer até ao fim da jornada diária. Normalmente consigo adaptar-me à dor, pelo que quando fazemos uma paragem, essa dor já faz de tal forma parte do meu ser que prefiro não mexer, não vá ela ter um súbito delírio criativo e inventar novas e mais agudas formas de se manifestar. Como diz o ditado, ou o refrão, já nem sei bem: "(...) p'ra pior já basta assim..." 
Alguns dos problemas físicos, que surgem durante o percurso, devem-se, ao não cumprimento dos conselhos que são dados pela organização, como, por exemplo, não levar calçado novo ou muito apertado ou não caminhar com calças de ganga que, mais tarde ou mais cedo, se tornam verdadeiros instrumentos de tortura, nas assaduras "interiores". Quem apenas não passou por este autêntico suplício pode descurar esta vertente da preparação para o caminho.
Eu, pessoalmente, besunto-me com vaselina nas hipotéticas zonas de assadura e até à data não me tenho dado mal... Relativamente aos conselhos dados pela organização, há quem não os cumpra e não se tenha dado mal e há quem, de facto, passe um mau bocado... Eu procuro cumpri-los à risca... e nunca tive problemas... melhor dizendo os problemas que tive já vinham comigo do antecedente. Não foram criados pela ou durante a caminhada...
Saímos do Vale de Santarém por volta das 15 horas. Nesta altura não creio que alguém pensasse em problemas ou mazelas... A estrada, estreita ao princípio, obrigou novamente à fila indiana quase perfeita. Por pouco tempo... O calor começava a dar sinais de vida embora já não de forma sufocante como quando o sol atinge o pique do meio dia... Ainda assim a prometer alguma transpiração para os quilómetros que nos faltavam caminhar até Santarém.  Assim que a estrada alarga regressamos a pequenas linhas de duas ou três pessoas que entre si vão conversando sobre os grandes temas da atualidade. Outros Caminhantes vão fazendo o percurso de uma forma mais introspetiva, orando, como o Paulo (Paulo do Larguinho como diz a Dª Ermelinda) que vai caminhando com o terço deslizando ao longo da sua mão esquerda, terço esse cujas contas ganham um brilho especial quando encadeiam o dinamismo de uma prece sentida a Nossa Senhora de Fátima. Também o senhor Humberto caminha ao som das suas preferências musicais, intervaladas com as últimas notícias do país e do mundo.
Nesta altura vamos encontrando pelo caminho outros peregrinos, em grupo ou individualmente que, tal com nós seguem o caminho que lhes é determinado pela sua fé. No dia anterior já tínhamos encontrado o grupo de peregrinos de São Julião do Tojal, parceiro de caminhada já de alguns anos a esta parte... Por agora estamos a chegar ao sopé da subida final para Santarém...
A subida para Santarém é dura... Curta mas dura... Em alguns momentos a inclinação atinge uma percentagem apreciável, nomeadamente na segunda parte da subida, quando o olhar quase que é obrigado  a subir a prumo para encontrar o horizonte citadino.Neste tipo de subidas o grupo volta a fracionar-se. Cada caminhante adota o tipo de passo que mais se adeque à sua condição física. Não há pressa  em chegar pelo que há que evitar os excessos e as suas consequências. Recordo-me que o ano passado, nesta subida, uma Caminhante, quiçá por algum excesso de ritmo inicial, associado ao sol e ás temperaturas elevadas, "estoirou" positivamente a meio da subida. Foi imediatamente apoiada por todo o grupo que vinha à retaguarda e pelo carro de apoio, com a Dª Ermelinda, sempre atenta a este tipo de situações... Esta 5ª feira não houve problemas deste tipo ou de qualquer outro e cada um chegou, a seu tempo, ao topo da subida onde cumprimentou o Capitão Salgueiro Maia cuja estátua de homenagem já está tão perto, tão perto, da porta de saída da cidade que não hão de tardar muitos anos para que esteja lá em baixo no Vale de Santarém... Afinal quem foi este Salguêro Maia... Um pintor? Não...  se é capitão... Um militar... claro... Ah ah ah... Onde é que eu tinha a cabeça... Já sei... Deve ter sido um resistente às invasões francesas, talvez  a segunda que passou por Santarém... ou terá sido a quarta...?  Não esperem... não foi nada disto... Foi quem comandou as tropas miguelistas na Batalha de Sant'Ana... Mas os miguelistas perderam, logo não têm estátuas... Oba... Está escrito na placa... Será que posso apagar o que está para trás...? As pessoas ainda vão pensar que sou ignorante... Um herói do 25 de Abril... Pois foi... Que esquecida está esta minha cabeça cansada... O velho Salgueiro Maia... o homem que deu o corpo ao manifesto enquanto  os outros ficavam em segurança, na retaguarda... bem vigilantes... claro... Não podiam sujar os uniformes... preparados para o protagonismo mediático... para poderem aparecer perante as câmaras e as objetivas... Compreende-se a amargura do Capitão de Abril, nos últimos anos de vida... esquecido... ignorado... desterrado... São essas as regras do jogo sr. capitão... Os operacionais só lembrados quando são úteis... Depois... nunca existiram... ou então... se as coisas correm mal: 
"- Maia...? Que Maia...? Salgado Maia...? ah Salgueiro... Sim... não sei quem é... Quis o quê? Golpe de estado?... Ah ah ah... Que lunático... Olhe... O melhor é "despachá-lo" não vá ele inventar mentiras sobre pessoas honestas e leais ao regime, como eu..." Como diz o poeta: "[Os operacionais] São os que percorrem os tuneis escuros e malcheirosos, o subsolo dos salões iluminados... São os que varrem para debaixo das carpetes os lixos comprometedores... São, senão os alicerces, pelo menos os andaimes dos regimes [e dos movimentos revolucionários]... a sua roupa interior... necessária, mas pudicamente oculta..." Os operacionais nunca são lembrados... ou se o são... ninguém sabe quem foram... Quem foram Alfredo Costa e Manuel Buiça? Quem foram os patriotas que atiraram Miguel de Vasconcelos pela janela no dia 1 de Dezembro de 1640? Mais sorte teve Rui Pereira... Quem??? Rui Pereira... sim o Rui... Foi o homem que em 1383 deu a estocada final no Conde Andeiro... Somente e apenas porque o Mestre de Aviz não quis que a sua estocada fosse a fatal... pelo que o Rui teve que terminar o "trabalho"... 

- Livra-te de escrever o que estás a pensar...
- Eu? Senhora minha.. por quem sois... Achais que eu era capaz de ... Aliás...  nem estava a pensar em nada... Apenas uma fugaz ideia que já nem me lembro qual era...
- Dispenso as tuas rábulas e as tuas graçolas de mau gosto... Continua a escrever sobre os meus Caminhantes...

Entretanto os Caminhantes vão chegando ao topo da subida... Um após outro... O rosto marcado pelo esforço, pela determinação, pela coragem, pela fé... Sr. Mário... Dª Marília... Sr. Carlos... Dª Heloísa... Um a um vão vencendo mais uma dificuldade... O Sr. Amaral e a sua esposa... O Sr. Sousa Pais... Dª Helena... Estão praticamente todos já na cidade recuperando forças... e... claro... Dª São e o Sr. Fernando... os condutores do carro-vassoura...