quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Fez hoje um ano...

Fez hoje um ano (10 de Fevereiro) que dei entrada nas urgências do Hospital Amadora-Sintra… Estive lá cerca de 24 horas… A maior parte do tempo numa estranha sonolência que me ligava e desligava da realidade que me circundava… Quando ligava tinha consciência do ambiente surreal… Uma penumbra plena de movimento… Gente a correr de um lado para o outro… macas e doentes em trânsito permanente… gritos… gemidos… súplicas…Lembro-me de ter entrado um médico que me disse: “Você arranjou a bonita… Já não lhe bastava o Covid ainda conseguiu associar uma pneumonia bacteriana… E agora?” Creio que ele não esperava uma resposta e eu não tinha forças para lha dar… Recordo-me que alguém achou que eu estava há demasiado tempo deitado e mandou-se sentar numa cadeira algures “lá fora… não se lembra por onde entrou?” Não, não me lembrava mas descobri a cadeira. Pouco tempo aguentei e deitei-me no chão… Era mais confortável que a cadeira… Voltei a acordar na maca… Alguém me levou para lá… sem que desse por isso… Outro médico: “Vai ser transferido para o HFAr… é a única hipótese que tem de sobreviver… Eles não têm melhores médicos que nós… nem melhores equipamentos que nós… Mas têm muito menos gente… Nós, aqui, temos tantos doentes que na hora de tomar decisões temos que fazer opções… temos que escolher quem nos dá mais garantias de sobrevivência… Você está em muito mau estado, não nos dá essas garantias… Nunca vai ser opção…”

E lá fui para o HFAr… Sem forças consegui cair logo á chegada… à saída da ambulância… A primeira noite foi terrível… Acho que nunca sofri fisicamente como nessa noite… com um fogo ardente a queimar-me mais e mais o peito… Era um ardor sufocante… Tentei chorar para aliviar a dor… mas também não tinha força… veio-me à memória uma passagem de Teixeira de Pascoaes “Os gritos da dor infinita não se ouvem… Os sons morrem no vácuo” …

Fui piorando a cada dia que passava… até ser enviado para os cuidados intensivos… onde, com a ajuda do oxigénio, o organismo começou a responder ao tratamento e, ao fim de cinco dias, regressei à enfermaria.

Não me recordo da maior parte das pessoas que trataram e cuidaram de mim… Médicos, enfermeiros, socorristas, auxiliares… A todos eles o meu muito, muito obrigado...

A todos aqueles que rezaram por mim… A todos aqueles que sofreram por mim… O meu muito, muito obrigado…

E a Nossa Senhora…que esteve sempre a meu lado… Muito obrigado…

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