Os primeiros raios de sol
abriram em leque sobre o horizonte, inundando a manhã de uma
luminosidade espectral... Uma tonalidade ímpar de azul foi, a pouco e
pouco, emergindo, transformando a abóboda celeste num imenso espaço
criativo... onde o movimento elíptico de seres angélicos, ao
atravessar pequenos novelos de algodão, redigia os mais belos textos
poéticos... Nos campos, nas estradas, nas praias, nos desertos, uma
suave brisa trazia consigo sons do Oriente... sons de bambu e de
cristal, entrelaçados no ritmo profundo do mar abissal... Duendes...
ninfas... salamandras... silfos... e outros seres fantásticos
reuniam-se no Vale de Mezoton... onde partilhavam fabulosas
alquimias... recuperavam antigos elixires... saberes de outras eras... segredos ocultos pelo véu translúcido do tempo sem tempo... Um pouco mais a Sul... nos cálidos desertos do Khali Se... um
eremita... com vestes andrajosas... pele tisnada pelo sol implacável... resquícios de longos anos de retiro... de
solidão... de isolamento... fugindo... da cidade... da gentes... quiçá... de um amor não
correspondido... prostrado por terra... agradecia a concessão de uma
graça... A de voltar a ver a dona do seu coração... aquela pela qual
tinha partido... tinha deixado tudo para trás... abandonado o mundo dos homens... E agora... ali estava ela... mesmo à sua frente...
linda... mágica... deslumbrante... O velho anacoreta... lágrimas salgadas
abrindo profundos sulcos na face queimada e suja... perante tamanha
felicidade... levantou-se... muito a custo... dirigiu-se àquela por quem
o seu coração ainda batia com tanta força... e ajoelhou-se a seus pés... Não... não lhe tocou...
nem numa mão para não a conspurcar com os longos anos de deserto... Fitou-a
longamente e perante tão lindo sorriso apenas conseguiu balbuciar...
"Amo-te... tanto... ..." Ainda tentou terminar a frase com o nome da sua
amada... mas... por ignotas razões... Deus já não lho permitiu...
22/1/2013
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