O quarto dia é um dia especial. Quase diria que é o Dia do Cume (bebendo um pouco de inspiração nas palavras do meu caro João Garcia). Talvez por isso nasça, já, com uma auréola de encantamento que desde a madrugada nos envolve, nos acompanha e quase nos embala. É o Dia do Cume porque nos abre as portas a uma ascese interior, a uma aproximação aos patamares superiores do nosso relacionamento com o divino. É o dia que nos faz confrontar com a nossa própria condição de Caminhante, e com as razões profundas que nos levaram até ali.
Deixámos Alcanena para trás, ainda bem cedo, e já a aurora se esperguiçava, tranquila, quando subimos para Minde. As distâncias deixavam de fazer sentido. Nada era longe, tudo era perto. Não havia subidas nem descidas, apenas caminhos para um destino cada vez mais próximo. De Minde ao Covão do Coelho, onde almoçámos, foi um salto. Antes da refeição os Caminhantes não quiseram deixar de dar loas à Senhora de Fátima, através de uma das mais arcaicas formas de homenagear e louvar o divino: a dança. Indiferentes ao esforço dos quilómetros percorridos os Caminhantes fizeram uso da sua expressão corporal e entregaram-se a um sublime momento de descompressão e devoção. Lá no alto, emocionada, a Senhora de Fátima sorria.
Sem comentários:
Enviar um comentário