sábado, 2 de agosto de 2014

Peregrinação a Fátima 2014 - Quarto dia - II

A subida da Serra  d' Aire tem, sempre, uma simbologia muito própria. É dos momentos desta peregrinação que mais me envolve. Recordo-me que, em 2013, esta subida foi feita, debaixo de uma temperatura gélida, muito próxima dos 2º C, e contra um vento fortíssimo que nos empurrava para trás, qual Adamastor dos tempos modernos procurando preservar a virgindade daquelas paragens.
Este ano, embora estivesse fresquinho, a temperatura não estava tão baixa, nem o vento soprava  com a voracidade de então. Apesar das condições climatéricas não terem sido tão adversas, há sempre um quê de místico, nesta subida, quer pela hora do dia em que ela se faz (entre a madrugada e a manhã) quer pelo esforço solitário que nos é exigido (apesar de integrados num grupo, o esforço, o espirito de sacrifício, o sofrimento, é algo absolutamente pessoal e intransmissível) quer ainda pela simbologia própria que, normalmente, está associada à  montanha, como local iniciático de um trajeto espiritual ascensional, onde o imanente e o transcendente se aproximam... se tocam... e se fundem e, por isso mesmo, local ideal para a comunicação com o divino. Vem-me à memória a  Subida do Monte Carmelo de São João da Cruz, e numa muito rápida passagem pelas Escrituras, recordo, nos  Reis, as revelações de Elias no Horeb, no Êxodo, que Moisés recebeu as Tábuas da Lei no cimo do Monte Sinai, em Mateus, o Sermão da Montanha e muito especialmente uma notável passagem de Marcos (9, 2-4), onde esta simbologia é explícita: "E seis dias depois Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou, (...) a um alto monte e transfigurou-se diante deles... E as suas vestes tornaram-se resplandecentes, brancas como a neve (...) E apareceu-lhes Elias e Moisés e falavam com Jesus..." 
Olhando para cada um dos Caminhantes, vendo-os subir, um a um, estas íngremes rampas, recolhidos na sua própria espiritualidade, na sua inabalável crença em Nossa Senhora, na sua vontade férrea em cumprir a missão a que se propuseram, vieram-me à memória todos aqueles portugueses que ajudaram com a sua perserverança, a sua fé, a sua coragem, a construir o que Portugal é hoje. Vendo Dª Ermelinda, o Sr. Luís, a Dª Eva, o Sr. Fernando, a Dª Elisabete, Carlos, Dª Helena, Luís Barrento, Dª Marília, João Apolinário e todos os outros Caminhantes, vejo D. Afonso Henriques enfrentado os cinco reis Mouros, a Rainha Santa Isabel desdobrando o seu manto em vermelhas rosas, D. Nuno Álvares Pereira derrotando os castelhanos em Aljubarrota, Bartolomeu Dias a dobrar o Cabo da Boa Esperança, Pedro Álvares Cabral enfrentando as altaneiras vagas do Atlântico rumo ao Brasil, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens explorando a floresta africana, Amália cantando Lágrima, ou Agustina escrevendo Adivinhas de Pedro e Inês... Vós Caminhantes de hoje, de ontem e de sempre... Vós sois os meus Heróis...






































































































s depois Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago, e a João, e os levou sós, em particular, a um alto monte; e transfigurou-se diante deles;
E as suas vestes tornaram- se resplandecentes, extremamente brancas como a neve, tais como nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia branquear.
E apareceu-lhes Elias, com Moisés, e falavam com Jesus.

Marcos 9:2-4

Sem comentários:

Enviar um comentário