domingo, 29 de junho de 2014

Peregrinação a Fátima 2014 - Segundo dia - II

Após o pequeno-almoço, na pastelaria habitual, fizemo-nos à estrada, ainda sob a luz crepuscular da madrugada. Os primeiros quilómetros, deste segundo dia, servem, desde logo, para aquilatar a nossa condição física. É importante perceber que tipo de sensações recebemos do nosso corpo, para podermos gerir o esforço. No meu caso, os músculos, os tendões, os ossos... o organismo no seu todo respondeu afirmativamente ao esforço inicial e isso é o melhor que nos pode acontecer no momento. Não é agradável sentir que algo não está bem logo no início da jornada. Uma pequena dor, um desconforto, qualquer sinal menos positivo, significam algum sofrimento até à primeira paragem do dia. Creio que todos nós já passámos por este tipo de experiência, e, nessa medida, existe uma corrente solidária que nos une e, simultaneamente, nos envolve, transportando nos seus elos aqueles que calam o seu sofrimento, e, sem nunca  vacilarem na sua determinação, cumprem o objetivo a que se tinham proposto.
Partimos da Azambuja ainda era noite... apesar de o dia já espreitar no horizonte. Gosto de partir de noite... Há sempre qualquer coisa de oculto... de surpreendente... de místico... na noite... A noite e os seus enigmas... os seus abismos... as suas fronteiras. 
A noite tem um significado ontológico ímpar... É na noite do tempos que Deus emerge... ganha consciência de Si... se torna Criador... Reconhecendo o caráter fecundo e originário da noite, não satisfeito com a criação do dia, Deus criou a noite para que nela o homem pudesse aceder ao Mistério Originário... ao Verbo Indizível... à Chave da Criação... Um acesso através daquela "secreta escada" que parte do mais íntimo de nós, graças à luz do nosso coração, como nos diz São João da Cruz: "Nessa noite ditosa/secretamente, que ninguém me via/de nada curiosa/ sem outra luz nem guia/senão a que no  coração me ardia." A noite... 

















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