Do ponto de vista estritamente conceptual, o “ícone” corresponde à classe dos signos cujo significante mantém uma relação de analogia com aquilo que ele representa, ou seja, com o seu referente. Em termos religiosos, o seu valor, enquanto elemento de interacção com o sagrado, tem sido alvo de alguma celeuma, ao longo dos tempos, entre as diferentes confissões religiosas. Se algumas, como a religiões judaica e islâmica e, no seio do próprio cristianismo, a evangélica baptista, recusam liminarmente, a presença de ícones, condenado o seu uso e associando-o a idolatria, o mesmo não se passa, por exemplo, com a Igreja Católica Ortodoxa. Nesta, o ícone situa-se no mesmo plano da entidade representada. A sua força assenta na própria encarnação de Deus, que, contrariamente à sua dimensão imaterial, incorpórea e inacessível, ao materializar-se permite que seja possível a sua representação em imagens. Neste âmbito venerar uma imagem (ícone), não significa a adoração do material de suporte físico no qual ele está inscrito (até porque a adoração está reservada apenas, para a divindade em si mesma), mas, antes de mais, a veneração da matéria enquanto mediadora do processo de salvação humana, razão última para a Encarnação de Cristo. Como referiu São João Damasceno “O Verbo ao tornar-se carne deificou-a, deificou a matéria, tornando-a portadora de espírito.” Face às múltiplas perseguições que sofreram ao longo dos tempos, por uma tendência iconoclasta repressora, a reintegração dos ícones na igreja, ordenada pela Imperatriz Teodora, em 843, é, hoje em dia, celebrada, no primeiro domingo da Quaresma com a Procissão dos Santos Ícones.
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