"Pessoas no mundo" é um projecto que pode ser tão interessante como fastidioso. Quando o esboçei mentalmente tinha a noção que seria fácil enriquecê-lo face à diversdade de pessoas-em-situação passíveis de nele ser incluídas. Neste momento tenho dúvidas. Será que determinada imagem, determinada(s) pessoa(s) acrescentam algo ao projecto? O motorista de pesados com um cigarro ao canto da boca, o ardina que ... (ops já não há ardinas), o transeunte alheado, perdido nas mil e uma formas de não conseguir pagar a conta do gás, a pedinte que encolhe uma perna para simular uma mutilação, a... enfim, estava perante este dilema quando me lembrei de um breve diálogo entre Teixeira de Pascoaes e uma senhora idosa de uma aldeia perdida, nos confins da serra beirã, relatada pelo poeta em Duplo Passeio:
"- Que faz vossemecê aqui, ó mulherzinha?
- Estou aqui...
E, como se eu mostrasse desdém pela resposta, acrescentou:
- O senhor entende que é pouco estar eu aqui?
Percebi, nesta frase, o quer que é de extraordinário. Uma estrela, se falasse, não diria a mesma coisa?"
Por tudo isto e porque posso confirmar que as covetes estavam vazias no final da refeição, esta senhora merece ser mais uma das "Pessoas no mundo".
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